Com muita frequência, procuramos conhecer o que mais distante está de nós primeiro.
Assim foi comigo em relação ao enoturismo.
O Brasil vitivinícola, que conhecia pouco quando iniciei minha carreira neste mundo de Bacco, tenho me acercado sempre que posso.
Já no país mais próximo a nós, o Uruguai, confesso que havia visitado somente uma vinícola, a Pisano em 2009.
Concluí que já era tempo de explorar a terra mais propícia ao Tannat, experimentar a vitivinicultura uruguaia e conhecer tudo mais que há lá.
Então, aproveitando uma semana que chamei de férias, lá cheguei no dia 22 de junho, a tempo para conferir um festival promovido por várias vinícolas do país nesta época: Tannat e Cordeiro.
A primeira experiência foi justamente o “Festival Tannat y Cordero” da Bodega Spinoglio, que está localizada em Cuchilla Pereyra, na região de Montevidéu – o qual é um dos 19 departamentos do país, e tem a capital com o mesmo nome.
Bodega Spinoglio

Após uma curta viagem de 22 km da capital, chegamos à centenária vinícola.
Fomos recebidos por Cecilia Baldi, responsável pelo turismo na vinícola e enóloga por formação, quem – com um português quase sem sotaque – foi incansável na atenção de todos durante a visita aos vinhedos, museu, cave e o serviço de almoço.
Com a mesma disposição estavam presentes o proprietário e herdeiro da vinícola, Diego Spinoglio e sua esposa Alejandra Bruzonne – quem é arquiteta, mas está totalmente envolvida com o negócio.
O frio do primeiro dia de inverno estava ameno, mas os vinhedos já praticamente sem folhas demonstravam a estação.
As únicas que ainda coloriam de amarelo o plano terreno eram de vinhas de uvas moscato, utilizados na sua grande maioria para os denominados “vinhos de mesa” – que representam 70% da produção nacional.
Vinhedos como estes são muito antigos, os mais recentes, com menos de 30 anos de idade, são os de variedades para elaboração de vinhos finos, que levam o selo regulado pelo INAVI (Instituto Nacional de Vitivinicultura ) com a identificação relativa a V.C.P. (vino calidad preferencial).
Esta regulamentação faz parte Decreto N° 283/993 de 1993 deste país, que teve como objetivo estabelecer os requisitos para vinhos V.C.P. – o que seria o equivalente à uma Denominação de Origem Qualificada.


A história da Spinoglio é muito similar a de outras vinícolas centenárias do país, na quais o negócio iniciou por um empreendedor, que tinha outra atividade principal, e que teve continuidade nas mãos de viticultores.
Assim foi com a família Spinoglio, já na 4ª geração de proprietários viticultores.

Na localidade de Cuchilla Pereyra está a sede da vinícola e 11 hectares dos seus vinhedos, onde o solo é similar a outras localidades que visitamos no país: limo-argiloso, o qual tem como característica a capacidade de retenção de água – o que é uma dificuldade, amenizada pelas constantes brisas que percorrem os locais mais próximos a grandes volumes de água, como o Oceano Atlântico e o Rio Del Plata que banham o país parte do país.
Spinoglio também possui outros 8 hectares de vinhedos de Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc no departamento vizinho de San José em local conhecido como “mar de piedras”: Sierras de Mahoma, que tem elevação de até 180 m.s.n.m. e onde o solo é mais rochoso.
Ao visitar seus vinhedos e edificações, se percorre uma história de mais de 120 anos, em uma mostra da trajetória vitivinícola do próprio Uruguai.
A vinícola também ilustra o momento atual deste pequeno país com grande cultura do vinho, onde o foco na qualidade e empenho em oferecer seu melhor, sem perder a própria identidade, foram perceptíveis em todos os lugares em que estivemos.
O evento que participamos, obviamente era uma proposta turística, mas totalmente conectado com a essência do lugar.
O cardápio de 5 passos teve acompanhamento de 5 vinhos: Diego Spinoglio Chardonnay 2018, Tonel Diez Corte Único, Diego Spinoglio Tannat 2016, Estiba Reservada Tannat 2015 e o espumante Walicxe Nature, a um custo de 1.900 pesos por pessoa (US$ 54.00).
Entre estes destaco o chardonnay, o qual teve fermentação e batonnage em tanques de aço inoxidável, ganhou complexidade e untuosidade sem perder a delicadeza da fruta. Ele é vendido na vinícola por de 660 pesos (+-US$18.80) e assim como os demais vinhos da vinícola, ainda não está disponível no Brasil.
Este vinho reflete bem a experiência que fui buscar em Uruguai, um país com a expressividade forte do Tannat, mas que vai muito além dele.










No próximo post eu relato uma excelente visita ao departamento de Canelones.
¡Hasta Luego y Salud!
Marcia Amaral
Um comentário em “Recuerdos de Uruguay – Relatos da Viagem (parte 1)”